quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ARTIGO: Árvores exóticas e administradores nativos


Por Tiago Holzmann da Silva

O paisagismo é a disciplina que trata da organização do espaço aberto constituído por praças, parques, orlas, grandes avenidas. Ao contrário do que muitos imaginam, o paisagismo não se restringe apenas ao trato da vegetação, sendo que esta característica o diferencia da simples jardinagem. O responsável pelo projeto de paisagismo é o arquiteto e urbanista e sua atribuição permite que projete, além da vegetação, pavimentos e caminhos, equipamentos, mobiliário urbano, iluminação e infraestrutura. 
  
Porto Alegre é reconhecida como a capital mais arborizada do Brasil. O paisagismo de nossa cidade é muito diversificado apresentando um amplo conjunto de espécies inseridas em nossas ruas, praças e parques. Além das nativas paineiras, jacarandás, canafístulas, ipês e outras, também adotamos muitas espécies exóticas como plátano (América do Norte), cinamomo (Austrália), flamboyant (Madagascar), a washingtonia (México e Califórnia) palmeira dos canteiros de grandes avenidas como a Osvaldo Aranha e a Getulio Vargas, e espécies orientais de pequeno porte como a extremosa e o ligustro. 
  
A tipuana (Tipuana tipu), espécie cortada para a ampliação da via em frente ao Gasômetro, é uma espécie considerada nativa, de acordo com a bibliografia técnica, do cone sul da América, presente desde a Argentina até a Bolívia. A tipuana é uma das espécies mais utilizadas no paisagismo urbano em todo o mundo devido à características importantes como sua resistência, rápido crescimento, tronco retilíneo, facilidade de condução (podas), sombra farta e floração abundante. Em Porto Alegre, para dar apenas dois exemplos, são as tipuanas que oferecem sombra para o Bric da Redenção e também que configuram o túnel verde da Rua Gonçalo de Carvalho, a “rua mais linda do mundo”. 
  
A justificativa de que a tipuana é exótica e, por isto, merece ser cortada é falsa e está sendo utilizada para desviar o foco principal do debate. O que os administradores nativos precisam esclarecer é se o asfalto e os viadutos são uma prioridade sobre os parques e as praças, uma questão que, desde 1975, já parecia resolvida em Porto Alegre. E se, após uma discussão pública decente, a conclusão de nossos administradores nativos for preponderante, que se cortem as exóticas e também as nativas para que o asfalto e os viadutos possam garantir o direito de ir e vir dos veículos e o livre trânsito das máquinas. Esta é a verdadeira questão em discussão: quem tem prioridade os veículos ou as pessoas?


*Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil / IAB-RS

2 comentários:

francisco disse...

Ótimo, sobre as tipianas, vale ressaltar que o biólogo da Smam fez questão de cumprir bem seu papel na audiência, o de desviar as atenções com o tema do petencial invasivo delas, que é mínimo, e que poderiam afetar o Delta do Jacuí.
Gostaria de convidar a prefeitura e smam para visitar os campos de qualquer um dos 44 dos morros de Poa, invadidos por Pinus, Acácia e Eucalipto. Espécies de fato invasoras e danosas ao ambiente.

Anônimo disse...

Muito boas as colocações expostas no texto, eu fico feliz por ver que o nosso IAB, está presente nos grandes debates sobre o futuro de nossa cidade. (Arq. Luís Francisco Vargas).