terça-feira, 15 de outubro de 2013

DILEMA

 A nossa cidade tem hoje um dilema em sua urbanidade, representado na situação de sua atual administração municipal, apoiado por um senso comum e uma nova vertente questionadora.

Neste vertente que prega palavras e conceitos como sustentatibilidade e mobilidade urbana, preservação de patrimônio arquitetônico, qualidade urbanística, sanidade urbana, combate à poluição urbana, acesso à água de qualidade, tais conceitos são ainda importantes que sejam vinculados ainda com a preservação da economia pública.

Agora focando na questão do atraso das obras:
O atraso é o de menos.

Atrasadas elas já estão à 20 anos, pois são obras fora de suas épocas, o conceito de rodoviarização dos centros urbanos está no Brasil e em Porto Alegre atrasado em algumas décadas.

Em várias cidades já foram tentados ainda na década de 70 e hoje estão sendo revertidos.
O prejuízo urbanístico revelou que estas obras são prejudiciais em custos ambientais e sociais, tornando-se importantes elementos de degradação de valor e qualidade de vida nas cidades.

O modelo equivocadamente proposto causa elevada mortandade, grande produções de descargas tóxicas, além de poluição sonora.

O problema maior destas obras não é o atraso de cronograma, mas sim os outros erros de avaliação por conta da falta de planejamento, como custo direto, assim entendido como aumentos nos orçamentos, e depois custos acessórios como endividamento futuro e comprometimento de receitas futuras em juros.

Além destes custos financeiros básicos que estão ainda indefinidos pois os preços seguem subindo.

O ponto principal é a que o erro de avaliação atinge além do cronograma, também o orçamento e sobretudo a efetividade destas obras na melhora do tráfego.

O modelo de endividamento publico para gasto em obras viárias é hoje um problema para os EUA, com uma economia muito maior que a nossa.

Por estas razões é que o conceito de mobilidade hoje é mais amplo que o de obras viárias.
Pois já há evidências de que as obras viárias assim executadas fora de um planejamento de mobilidade urbana são paliativos ineficientes.

Não terão qualquer efeito na melhoria do tráfego da cidade.

Não podem a rigor nem mesmo serem chamadas de obras de mobilidade urbana.

Ocorre que o mais grave que a falta de planejamento na execução das obras é a falta de planejamento na análise de demanda e da eficácia destas obras.

Estamos a rigor desperdiçando bons bilhões de dinheiro público.

Temos o paradoxo de Braess, que foi um matemático que entendeu e representou o resultado contrário das obras viárias, uma situação observada como resultado neste tipo de investimento, pela concentração de oferta e aumento de demanda, estas obras funcionam como elementos geradores de tráfego.

A solução do paradoxo de Braess identificou as razões pelas quais os congestionamentos ocorrem, justamente ao contrário do previsto, nas vias com maior investimento viário, ao contrário dos sistemas viários mais simples, como os de bairros residenciais onde o tráfego tende a ser mais amistoso, em geral também os carros trafegam melhor e com menos riscos para os pedestres.

Outro estudo importante foi o de Bent Flyvbjerg (2009): Survival of the Unfittest: Why the Worst Infrastructure Gets Built ? and What Can We Do About It; Oxford University Press.
Que discorre sobre o fato de que as razões políticas nas obras públicas se sobrepõem às avaliações técnicas e geram erros de custos e prazos, assim como de necessidades e de resultados, causando desperdício de dinheiro público.

Este estudo identifica as razões pelas quais ocorrem os erros de cronograma, como também os de orçamento e os de custos sociais e ambientais, além do erro de avaliação de resultado, eis que o aumento de tráfego gerado por tais obras torna-se um problema circulação por todo o corpo de vias da cidade, transferindo o problema adiante, para novos pontos de congestionamento de trânsito.

Mas hoje há dezenas de milhares de pessoas ou talvez centenas de milhares de pessoas que pensam nesta vertente urbanística voltada para as pessoas e para a qualidade de vida na cidade.

A evolução dos projetos de cidade mudou drasticamente nas últimos anos em termos de busca de qualidade urbanística, começou em cidades menores na Europa, se expandiu para as cidades maiores do nortes da Europa, e logo se ampliou nas maiores metrópoles do mundo como Londres, Paris e Nova Iorque, com reflexos também em cidades da América Latina como Buenos Aires, Montevideo, Bogotá, Rio de Janeiro.

Várias cidades hoje no mundo estão investindo bilhões em projetos de reversão do passivo ambiental de obras viárias, principalmente nos EUA onde este tipo de investimento ocorreu mais intensamente, como São Francisco, Seattle, Portland.

No caso de Porto Alegre há graves erros conceituais identificados objetivamente, um deles principalmente importante é a falta da via BRT na ampliação do espaço viário para o transporte coletivo, esta via seria a essencial para a efetividade dos terminais de transbordo em um projeto completo.

Ora como se opera um BRT, há os terminais de transbordo onde os ônibus são lotados e vão expressos, mas para isto é preciso que seja possível a ultrapassagem dos ônibus lotados.

No caso de Porto Alegre a opção foi por restringir a possibilidade de operação do sistema como um BRT completo.

Vários outros problemas são identificados, mas todos estão sendo ignorados ou ocultados pela prefeitura.

Poderíamos ainda entrar em um debate profundo sobre a questão da insegurança no tráfego nos elevados índices de acidentalidade e mortalidade.

Também sobre o metrô se identifica um grave erro de avaliação.

Por que ser subterrâneo?
Para liberar espaço para o trânsito dos carros fluir?

O metrô serve para levar os outros para baixo da terra e sobrar mais espaço para a gente andar melhor de carro.

Ninguém quer o metrô para andar nele mas sim para enterrar os outros...

Pior que o metrô, assim como as outras obras de Porto Alegre está também sendo feito sem planejamento.

É só uma linha na zona norte por 5 bilhões.

O resto da cidade segue sem investimento.

Não vai ter uma rede.

É como as ciclovias isoladas que levam do nada ao lugar nenhum.

Esta administração sem planejamento já está enterrando bilhões sem resultado nos viadutos.

Agora quer mais 5 bilhões para uma única linha de metrô.

Com este dinheiro poderíamos estar fazendo de Porto Alegre uma cidade incrível.

Só que não.

Tudo para não tirar espaço dos carros.

Pois pelo preço de uma única linha do metrô poderíamos ter uma rede completa de transporte público de superficie com veículos leves sobre trilhos VLT ou ônibus rápidos BRT.
Com a grande vantagem do transporte público ficar na superfície, com vista e sem escadas profundas.

Só que para isto precisa dividir espaço viário dos carros.

E aí não pode.

O metrô é mais um erro.

A Lei da Mobilidade Urbana n.º 12.587/2012 prevê que em dois anos os municípios deverão ter Plano de Mobilidade Urbana integrado examinando os serviços de transporte público coletivo, a circulação viária, as infraestruturas do sistema de mobilidade urbana, a integração dos modos de transporte público e destes com os privados e os não motorizados e os mecanismos e instrumentos de financiamento do transporte público coletivo e da infraestrutura de mobilidade urbana.

A esperança é que neste plano seja contemplada uma estrutura adequada de mobilidade que possibilite um eficiente transporte coletivo e vias mais agradáveis e seguras para os pedestres e ciclistas, em toda a cidade, não só na orla ou em poucas linhas isoladas como atualmente são as ciclovias e este projeto limitado de metrô.

Atenciosamente,
Aires Becker


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