terça-feira, 21 de maio de 2013

ARTIGO: Minha Cidade Minha Vida

Por Humberto Hickel

Os movimentos de protestos desencadeados em Porto Alegre nos últimos tempos evocam lembranças na história das cidades. Na Grécia Antiga, primórdios da democracia, a maior vergonha para um cidadão era ser banido da cidade, já seu maior orgulho era morrer por ela. 

No curso da História muita coisa mudou, embora viver na cidade continue sendo uma questão de vida ou morte. O sujeito é seduzido pela cidade, atraído pela vida e o movimento que ali acontece, quando se estabelece nota que a cidade não é aquilo o que se vê da janela. Ator e plateia ao mesmo tempo, o tempo todo, onde eventualmente um grupo se rebela na plateia e reivindica seu papel de protagonista  e vai às ruas.

Assustados, aqueles das classes dominantes se socorrem de grupos armados se perpetuam em cena. Quando saem, após trocar o cenário, construindo viadutos – verdadeiras pontes urbanas – e entronizando o automóvel, escondem suas pegadas, deixam a luz acesa e a conta para os próximos.

Após este período, que alguns classificam como “Ditadura Branda” segue um outro onde é permitido um  maior número em cena, embora o teatro seja grande o palco é pequeno e uns tantos fiquem na plateia.  É o custo para quem almeja a vida urbana, mas não é ruim de todo, pois a cada espetáculo ganham brindes jogados  do palco junto com as ilusões.

Atualmente já não se brinda mais tanto  mas,  as ilusões são fartas e distribuídas televisivamente, ou através de um aparelhinho que cabe na palma da mão, não tem quem não o tenha. É o que podemos chamar de “Democracia da Ilusão”.

Outro aparelho, este também de uso individual e um tanto maior, vem enaltecendo o protagonismo de seu usuário, embora ainda não seja para todos, segue sendo facilitada sua aquisição. Por ele se destrói o que há de melhor na cidade, se retoma uma antiga forma de urbanismo – as “cirurgias urbanas”, e uma nem tão antiga tradição: a imposição à Cidade de obras de interesses restritos e de eficácia duvidosa.

Agora a plateia indignada pede protagonismo e ameaça invadir o palco caso não seja escalada. Tem contra si todo o aparato que ampara o poder, hoje com outra arma mais poderosa, muito persuasiva e que se alimenta da lógica do capital. Contra ela contrapomos nossos ideais de cidade, não morreremos por ela como os antigos gregos, mas nos municiamos de toda a poesia que a situação requer e que a linhagem deles desconhece. Não é hora de baixar o pano ainda.


Arquiteto e Urbanista
Vice-Presidente do IAB-RS

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