Por Humberto Hickel
Os movimentos de protestos desencadeados em Porto Alegre nos
últimos tempos evocam lembranças na história das cidades. Na Grécia Antiga,
primórdios da democracia, a maior vergonha para um cidadão era ser banido da
cidade, já seu maior orgulho era morrer por ela.
No curso da História muita coisa mudou, embora viver na
cidade continue sendo uma questão de vida ou morte. O sujeito é seduzido pela
cidade, atraído pela vida e o movimento que ali acontece, quando se estabelece nota
que a cidade não é aquilo o que se vê da janela. Ator e plateia ao mesmo tempo,
o tempo todo, onde eventualmente um grupo se rebela na plateia e reivindica seu
papel de protagonista e vai às ruas.
Assustados, aqueles das classes dominantes se socorrem de
grupos armados se perpetuam em cena. Quando saem, após trocar o cenário, construindo
viadutos – verdadeiras pontes urbanas – e entronizando o automóvel, escondem
suas pegadas, deixam a luz acesa e a conta para os próximos.
Após este período, que alguns classificam como “Ditadura
Branda” segue um outro onde é permitido um maior número em cena, embora o teatro seja
grande o palco é pequeno e uns tantos fiquem na plateia. É o custo para quem almeja a vida urbana, mas
não é ruim de todo, pois a cada espetáculo ganham brindes jogados do palco junto com as ilusões.
Atualmente já não se brinda mais tanto mas, as
ilusões são fartas e distribuídas televisivamente, ou através de um aparelhinho
que cabe na palma da mão, não tem quem não o tenha. É o que podemos chamar de
“Democracia da Ilusão”.
Outro aparelho, este também de uso individual e um tanto
maior, vem enaltecendo o protagonismo de seu usuário, embora ainda não seja
para todos, segue sendo facilitada sua aquisição. Por ele se destrói o que há
de melhor na cidade, se retoma uma antiga forma de urbanismo – as “cirurgias
urbanas”, e uma nem tão antiga tradição: a imposição à Cidade de obras de
interesses restritos e de eficácia duvidosa.
Agora a plateia indignada pede protagonismo e ameaça invadir
o palco caso não seja escalada. Tem contra si todo o aparato que ampara o
poder, hoje com outra arma mais poderosa, muito persuasiva e que se alimenta da
lógica do capital. Contra ela contrapomos nossos ideais de cidade, não
morreremos por ela como os antigos gregos, mas nos municiamos de toda a poesia
que a situação requer e que a linhagem deles desconhece. Não é hora de baixar o pano ainda.
Arquiteto e Urbanista
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