Sou morador do bairro Petrópolis, advogado e servidor
público de município da região metropolitana.
Resido em Petrópolis há mais de 30 (trinta) anos, sou
proprietário de casa no bairro e minha família também é proprietária de outra
casa na região. Temos, portanto, 2 (dois) imóveis (casas) no Petrópolis.
Assim, é com satisfação que parabenizo o trabalho de
inventário de imóveis do bairro e registro o meu apoio à medida administrativa
em comento, cujos reflexos vão muito além da simples preservação de imóveis,
eis que vem em encontro à preservação da paisagem, da cultura, da arquitetura,
do ar, da avifauna e do trânsito e espaço público no bairro, contribuindo
sobremaneira para a qualidade de vida em Porto Alegre.
Contudo, infelizmente, tenho observado irresignação de
alguns proprietários de imóveis abarcados pelo inventário.
A contrariedade em questão, pelo que observei de debates em
fóruns da internet e, sobretudo, em recente encontro na Praça Mafalda
Veríssimo, restringe-se a alguns proprietários (em um número que não chega a
20% do número de bens inventariados), muitos, em geral, idosos, que temem por
desvalorização, argumento este instigado por integrantes da construção civil
infiltrados no grupo, apoiados por políticos que encontraram na questão uma
oportunidade para exposição junto a este grupo de moradores.
Preocupa-me que uma movimentação deste tipo, possa alcançar
outros proprietários e outros segmentos da sociedade, considerando-se a
fragilidade de muitos que se deixam levar por argumentos referentes à alegada
desvalorização dos bens e do entorno.
Petrópolis tem suas peculiaridades que lhe caracterizam e
merecem ser preservadas. Ainda há no bairro muito a ser preservado,
características estas que mesmo a explosão imobiliária das últimas décadas
não conseguiu descaracterizar, destarte, é fundamental a medida do inventário
que mantém o que há de mais importante para Petrópolis continuar existindo com
suas características próprias e tão valorizadas.
Na verdade, uma visão mais acurada, claramente demonstra que
o inventário não implicará em desvalorização para os proprietários das casas
objeto da listagem.
Isso porque, Petrópolis jamais deixará de ser requisitado e
valorizado justamente por manter suas características originais, ruas
arborizadas, casas ajardinadas, árvores frutíferas nos pátios, arquitetura de
casas modernistas, art. décoe colonial espanholas/californianas em
conjuntos de residências, que se encontram, sobretudo, no eixo Av.
Protásio-Av.Ipiranga.
Estas casas são referências do bairro, que somados à
localização privilegiada e natureza mista e autônoma - residencial/comercial -
caracterizam e valorizam a região; some-se a isso, a própria existência dos
edifícios das últimas décadas, os prédios de alto padrão. Isso porque, não se
pode negar que, ressalvadas exceções, algumas das novas edificações acabaram
por valorizar o bairro, conferindo-lhe movimento e refinamento.
Entretanto, a construção desses prédios deve ser moderada,
de modo a respeitar as características originais do bairro que o valorizam e,
neste contexto, é que sobrevém com perfeição a figura do inventário dos
imóveis.
Ou seja, Petrópolis se valoriza com os inventários, pois
permanece aberto às modernizações e alterações. Isso porque, não obstante o
inventário de algumas casas há muita área ainda para se edificar no próprio
bairro, cabe lembrar que é dos maiores bairros da capital, mas garantindo sua
sobrevivência com reserva de suas características que o fazem admirado e
requisitado para moradia.
As casas inventariadas como de estruturação e
compatibilização, ademais, não implicam na tão alardeada desvalorização.
Não há dúvida, mas poucos ainda têm esta visão em Porto
Alegre, de que tais imóveis oferecem muito mais recursos que os apartamentos de
meio metro quadrado vendidos por centenas de milhares de reais por oferecerem
piscina ofurôs, academia e demais itens comunitários, além da alardeada falsa
segurança.
Esta ideia de que as casas valem unicamente pelo terreno e
não pela qualidade de vida que proporcionam é situação há anos trabalhada pela
construção civil no fito de levantar terrenos para mais e mais construções,
pensamento este que, infelizmente, está arraigado em muitos proprietários de
casas, sobretudo os menos atentos à astúcia dos especuladores do mercado
imobiliário.
De mais a mais, a partir do inventário, fica a segurança de
que não haverá, frente às casas inventariadas, desvalorização proveniente de
lote lindeiro, tal qual ocorrido com muitas residências e até edifícios,
maculados por construções vizinhas que lhe tiraram a claridade, privacidade e
conforto.
Cabe lembrar, que muitos proprietários de casas já se
depararam com seus bens cercados por edificações construídas nas divisas ou em
altura desproporcional onde antes havia pátio com farta vegetação, tolhendo-se
a iluminação, estética e privacidade, ocasionando – este fato sim – expressiva
desvalorização imobiliária do bem.
Perdurando o inventário, o mercado continuará buscando o
bairro Petrópolis, justamente pela preservação de suas características que o
fazem visado, para os quais, sem dúvida, as casas inventariadas em muito
contribuem.
Com isso, se valorizarão todos os imóveis existentes no
bairro, em decorrência de um princípio mercadológico básico, qual seja: a
diminuição da oferta frente ao contínuo aumento da demanda por moradias no
bairro. Assim, as casas retornarão a ser valorizadas como bens aptos à
atualização e restauração para fins de moradia e ainda, se estará evitando a
saturação de imóveis e trânsito nesta região.
De outra banda, não prospera qualquer argumento de que
Petrópolis ficará abandonado ou estagnado, pois há muito já detém autonomia,
comércio e elevado fluxo de pessoas e veículos decorrentes do grande número de
edificações multifamiliares que vêm sendo construídas na região e do aumento de
áreas reservadas à atividade profissional e comercial.
Por sua vez, com a limitação de novas construções nas áreas
inventariadas, as casas por sua condição de imóveis de estruturação ou
compatibilização, estarão resguardadas de depreciações oriundas de construções
em lotes contíguos e se ressaltarão como opção para investimento de moradia
familiar e não apenas como um conjunto de lotes aptos à demolição e construção
de edifício.
Ainda, os imóveis já existentes, casas e apartamentos, não
listados, por estarem inseridos neste contexto de área preservada terão seus
valores maximizados.
Em suma todos ganham e ganha a qualidade de vida da
capital.
Álvaro Jôffre Souza
Arrosi
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