sexta-feira, 17 de abril de 2015

MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: PELA VALORIZAÇÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO DE QUALIDADE


Na primeira audiência pública da Comissão Especial de Mobilidade Urbana Sustentável, presidida pelo deputado Adão Villaverde (PT), o engenheiro Pedro Bisch Neto, superintendente da Metroplan, disse que é preciso deixar o discurso retórico e estimular, de fato, o transporte coletivo de qualidade. “Temos que inverter prioridades que estão reservadas ao carro individual”, acentuou, criticando a publicidade que vende ruas vazias que não existem, em cenários imaginários onde os veículos particulares trafegam livremente. “O carro é o novo cigarro, como diz o arquiteto Jaime Lerner ao comparar o repúdio e a repulsa ao tabagismo por conta da incidência de câncer entre os fumantes”, salientou na reunião desta tarde, na Sala Maurício Cardoso.

Situando o fim da era da cultura do individualismo automobilístico e defendendo a modernização do transporte público que inclua a sustentabilidade conjunta da capital e da região metropolitana, Bisch lembrou que o último up grade ocorrido no transporte público de Porto Alegre foi nos anos 70, com a criação dos corredores e vias radiais, com o sistema de confinamento de linhas de ônibus.
“Agora é preciso outro mas não dá mais para particularizar só na capital. É mais complicado, mas tem que ser formatado um novo modelo, favorecido por um início de governo”, afirmou. “As atuais linhas de ônibus urbanas são irracionais e custosas e os planos, superados e precários, devem ser substituídos por sistemas melhores, modelados por regiões, bacias, eixos ou variantes”.

Sobre o metrô de Porto Alegre, o engenheiro foi contundente: “o projeto ‘deslizou’ como disse o ministro Kassab”. Ou seja, não é para agora. Segundo ele, os atuais planos de transporte públicos estão com os dias contados porque a legislação especifica venceu em 2010 e está, portanto, há cinco anos sem efetivação. “Estamos iniciando tratativas para regularizar concessões, mas o processo não pode ser açodado porque o sistema possui muitas situações distintas, sob três administradores, o Daer, a Metroplan e Porto Alegre”, argumentou. “De todo modo, vamos ter que trocar o pneu com o carro andando, evoluindo para um sistema racional, com ganhos de produtividade e melhoria do serviço à população”.

Para o presidente do Crea/RS, Melvis Bairros, sem recursos financeiros para novos investimentos e obras, a discussão acerca da mobilidade urbana será estéril. O engenheiro também sugeriu uma rediscussão sobre o metrô, considerando a atual demanda do sistema integrado e a insuficiência de estudos sobre a geografia da região.

O vereador de Porto Alegre, engenheiro Carlos Comassetto, lembrou que já há uma lei de mobilidade urbana e que os municípios devem apresentar um plano muito brevemente. “Transporte público de qualidade e audaciosa engenharia de tráfego são os dois aspectos fundamentais para a mobilidade em Porto Alegre”, disse ele, reivindicando a publicação do edital para transporte urbano da capital incorporando o conceito de integração da região metropolitana.

A representante do Ministério Público, Debora Menegat, exortou os municípios a se organizar para apresentar planos fomentando uma discussão participativa com a população desde o planejamento inicial dos sistemas de mobilidade urbana. Valério Lopes, representante da Fegam, disse que as tarifas são muito caras e incompatíveis com a má qualidade dos serviços oferecidos pelas empresas de ônibus.

O vereador Serginho Kumpfer, de Viamão, definiu como “constrangimento diário” a visão dramática dos passageiros empilhados em ônibus lotados, que sequer têm corredores específicos no vizinho município. O diretor da Trensurb, Nazur Santana, disse que a gestão do transporte público poderá ser resolvida com a criação de consórcio público metropolitano. Getúlio Vargas Júnior, do Conselho das Cidades, alertou para a importância do Estatuto da Metrópole para fortalecer a cultura do planejamento na política de mobilidade urbana na região metropolitana.

O professor de Economia Alternativa da UFRGS, Carlos Schmidt, chamou atenção para o uso do solo considerando a reforma urbana, no planejamento da mobilidade urbana sustentável. “É preciso uma visão mais totalizante”, insistiu. Representando a Uampa, Paulo Ávila defendeu a adoção de todos os modais possíveis de transporte, do catamarã aos portais da cidade que integrariam a capital com a região metropolitana. “Transportes públicos atualmente são negócios quando deveriam, prioritariamente, servir à população”.

Em resposta a questionamento de Villa sobre projetos cicloviários, Bisch assinalou que os novos planos de transportes urbanos estão considerando inclusão de ciclovias nos corredores. “A ciclovia vai melhorar a fluidez geral do trânsito, mas é preciso mudança cultural também”, sustentou.

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