quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os limites da expansão urbana



As cidades contemporâneas, em geral, surgiram e se organizaram em torno do padrão de produção e consumo de um sistema conceitualmente capitalista, ou seja, sociedades imbuídas de competitividade e cujos hábitos e valores morais são moldados radicalmente de acordo com a ordem econômica do momento. Sendo a produção de bens de consumo o alicerce desse sistema, pode-se deduzir que, para que haja crescimento econômico, se faz necessário consumir o que se produz - consumir recursos ambientais. Dessa lógica decorre uma série de consequências, mas tem-se que o cerne dos conflitos é proveniente da expansão da produção sobre uma base material que não se expande e que está distribuída pelo planeta segundo processos naturais (ALIER, 2007).
 
Conflitos ambientais serão cada vez mais frequentes no mundo contemporâneo, principalmente devido ao aumento de tensões pelo acesso a recursos naturais. A produção de mercadorias em larga escala estimula a confrontação pelo uso da natureza, visto que ela foi transformada em recurso para acumulação de capital. A produção contemporânea exige, em função da quantidade requerida de recursos naturais, uma exploração da natureza sem precedentes. O uso crescente vai tornar alguns recursos naturais raros e cada vez mais estratégicos (o que fará muito bem para a lógica econômica vigente e para a acumulação de poder). O controle de sua extração e beneficiamento já está sendo disputado e de forma cada vez mais violenta. Um exemplo é a recente liberação pelo Governo Federal para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu - empreendimento social e ambientalmente inviável mas que está sendo violentamente imposto sob fatídicos argumentos de expansão econômica.

METABOLISMO URBANO

Como qualquer outro sistema orgânico, as cidades consomem, metabolizam e transformam energia, água e materiais em produtos e resíduos.

Embora não seja possível determinar um padrão de crescimento e desenvolvimento igual para todas as cidades, é comum entre todas que a concentração urbana acarreta em maior dispêndio energético. Logo, na medida em que a humanidade se torna cada vez mais urbana, estaremos caminhando na direção de economias que requisitam quantidades maiores de energia e de materiais per capita.

Nas últimas duas décadas, a população urbana dos países em desenvolvimento cresceu à média de 3 milhões de pessoas por semana. Em meados do século 21 a população urbana total dos países em desenvolvimento irá mais que dobrar, indo dos 2,3 bilhões em 2005 para 5,3 bilhões em 2050.

Não é o nível de urbanização num país ou o tamanho da cidade que determina a quantidade de emissão de gases de efeito estufa per capita; o nível de emissões é determinado por outros fatores, tal como o padrão de consumo, estilo de vida, forma e estrutura urbana e políticas ambientais.

Nos 10 anos entre 1980 e 1990 a humanidade consumiu metade da energia que se usou nos 180 anos anteriores (ANGELO, 2008). O consumo de energia costuma ser associado ao grau de desenvolvimento de um país. Entretanto, a produção, o consumo e os subprodutos resultantes da oferta de energia exercem severas pressões sobre o meio ambiente e os recursos naturais.

Qual será o limite dessa expansão? Até onde vamos?

Abaixo cito alguns casos emblemáticos atuais para elucidar como a expansão urbana vai muito além do domínio territorial da cidade:

1) Construção da mega Usina Hidrelétrica Belo Monte na bacia hidrográfica do rio Xingu: http://www.socioambiental.org/esp/bm/index.asp

2) Lobby de políticos e empresários tenta aumentar limites para queima de carvão mineral no Rio Grande do Sul, visto que 89% da reserva nacional está concentrada aqui e pretende-se explorar esse recurso (em pauta no CONSEMA/RS).

3) A exploração de petróleo na região do pré-sal ainda não é realidade e por exigir nova e exclusiva tecnologia, além de tremendas dificuldades, constituirá em grande risco para a fauna e a flora marinha e costeira.

4) A atual conjuntura política nacional é favorável à ampliação das usinas nucleares.

Principais referências deste texto:

ALIER, Matínez, Joan. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de
valoração. São Paulo: Contexto, 2007.
ANGELO, Claudio. O aquecimento global. Publifolha, São Paulo, 2008.
DAVIS, Mike. Planeta Favela. Editora Boitempo, São Paulo, 2006.
UN-HABITAT - United Nations Human Settlements Programme. State of the World’s Cities
2008/2009: HARMONIOUS CITIES. Earthscan, Londres, 2008.

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