Arquivo IAB-RS |
Segundo dados da EPHAC- Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre, o Solar apresentava, naquela época, características da arquitetura colonial portuguesa, como aberturas em caixilho e arco abatido de madeira, cobertura de telhas em capa e canal, camarinha no eixo da fachada principal, mescladas à influência no neoclassicismo em voga no Império (platibanda e pilastras na fachada principal).
Em 1933, em função da reciclagem de uso, o imóvel recebeu alterações em sua configuração original, principalmente na volumetria (supressão da camarinha), aberturas externas (substituição de esquadrias em arco abatido por verga reta) e tratamento de fachadas, que sofreram uma atualização da linguagem arquitetônica para um neoclássico tardio. Quanto ao prédio do Antigo Necrotério, situado ao lado, de frente para a Rua Riachuelo, construído também em 1933, apresenta o ecletismo historicista daquele período.
Desde então, o Solar passou a ser utilizado como Quartel-General do Corpo Policial “Ratos Brancos”, recebendo várias intervenções que alteraram a composição de elementos arquitetônicos originais. Ainda naquele ano, foi construído o primeiro Necrotério da cidade, ao lado do prédio principal. O Solar, o Antigo Necrotério e o respectivo terreno formam o conjunto tombado pelo Município de Porto Alegre em 1998.
Ainda conforme a EPHAC, o prédio é estruturado com paredes de alvenaria portante em tijolos argamassados em cal, areia, mica e barro com vestígio de conchas. O pavimento térreo apresenta acesso principal pela Riachuelo e é composto pelo salão no setor central, conectado a duas alas com salas. O pavimento superior apresenta outro salão. No pavimento superior, o ritmo dos vãos obedece à disposição das aberturas do pavimento térreo, ocorrendo balcões com peitoril de ferro nas duas sequências de aberturas dispostas em simetria. O arremate da cobertura é dado por uma platibanda e uma cimalha, que se estendem ao longo de todo o perímetro da construção.
O Solar pertence atualmente ao Instituto dos Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul (IAB/RS), que já restaurou, com recursos próprios, a parte do anexo ocupada pela entidade, a qual tem ali o setor administrativo. Em diversos outros espaços do prédio principal, vêm sendo desenvolvidas atividades características de centro cultural, como eventos, espetáculos teatrais e oficinas artísticas. O Solar passa por restauração desde 1999, o que não impede o funcionamento normal nos setores já concluídos.
A continuação das obras depende de recursos financeiros.
Não existem dados precisos sobre a data em que foi erguido o prédio, mas estima-se que teve uso residencial pelo Conde de Porto Alegre de 1855 a 1875. A época provável da construção é 1835, período, portanto, da Revolução Farroupilha. O imóvel foi vendido ao Governo do Estado em 1932, por 180 contos de réis. O presidente do IAB/RS, arquiteto Carlos Sant’Ana, cita que o local abrigou, desde então, vários órgãos públicos, como Quartel-General da Guarda Civil, Chefatura de Polícia, Instituto Médico Legal e DOPS, centro de repressão na ditadura.
Com a posse pelo Governo, a intenção era abrigar o Arquivo Histórico. Em 1986, um incêndio destruiu toda a área frontal do imóvel. Na década de 90 foi modificada a intenção original e cedido o uso para o IAB/RS manter ali a sua sede e implantar um Centro Cultural de referência em Arquitetura e Urbanismo, comprometendo-se com sua restauração e conservação. Sant’Ana diz que alguns entraves burocráticos dificultam o andamento do processo de restauração, mas acrescenta que as doações de recursos são bem-vindas, com base nas Leis de Incentivo à Cultura. Segundo ele, o próximo passo será o restauro total da fachada, hoje coberta por tapumes. O objetivo é utilizar o espaço, em sua totalidade, como centro de eventos, de cursos, de encontros políticos e de documentação, acrescenta o dirigente.
Os arquitetos Ediolanda Liedke e Roberto Paglioza, encarregados da restauração, dizem que as obras estão paradas. Já foram feitas diversas intervenções, ao longo de mais de uma década. “A mais delicada foi a consolidação das paredes, que estavam abrindo, devido ao sistema construtivo antigo que usava madeira; foi preciso colocar estrutura metálica”, informam. Ediolanda acrescenta que os beirais da construção colonial original foram substituídos por platibandas já na época em que o Código de Posturas queria evitar que a água da chuva caísse nas calçadas.
IABRS
Nas obras que faltam, previstas no projeto, os arquitetos encarregados da restauração destacam as de acessibilidade, a colocação de ar-condicionado, elevador, entre outros confortos. O subsolo foi escavado, para ampliar as possibilidades de utilização. O espaço por onde entravam as carruagens e se fazia o abastecimento do Solar está servindo de ateliê de artistas.
IABRS
Segundo Ediolanda, foi mantida a fachada neoclássica (posterior à original colonial) porque esta “já se encontra consolidada no imaginário de Porto Alegre e, além disso, as alterações fazem parte da identidade do prédio”. Um concurso realizado pelo IAB/RS resultou em projeto que detalha a plena utilização do Solar. Os vencedores foram os arquitetos Ana Carolina Pellegrini, Carla Waleska Mendes, Daniel Pitta Fischman e Marcos Almeida. Algumas das novidades previstas são o auditório com 150 lugares e a volta do “Bar do IAB”, que marcou época quando a sede do Instituto era na Rua Annes Dias.
Endereço
Solar Conde de Porto Alegre (IAB/RS) – Rua Riachuelo, 579, Porto Alegre.
Sede do IAB/RS – Rua General Canabarro, 363, Porto Alegre, telefone 3212-2552, e-mail: iabrs@iabrs.org.br
Fonte: http://sul21.com.br/jornal/2011/11/patrimonio-dois-predios-tombados-a-espera-da-conclusao-do-restauro/
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